Clara dos Anjos (Lima Barreto)
Prof. aloisio
- Pré-Modernismo: os autores ainda estão presos à estética e aos modelos do Realismo/Naturalismo, mas se introduz duas novidades:
- Realismo (universalizante) → Pré-Modernismo (interesse pela realidade brasileira) → Obras de nítido caráter de denúncia social. Lima Barreto, especificamente, faz uma análise das populações suburbanas do Rio de Janeiro.
- Busca de uma linguagem mais simples e coloquial: Barreto escreve com simplicidade, transcreve, muitas vezes, fielmente o modo de falar dos marginalizados e suas expressões típicas (influência para os Modernistas).
- Características gerais da obra:
- simplicidade de linguagem
- aproximação com a fala cotidiana
- ironia
- moralismo explícito
- tom panfletário: denúncia do preconceito contra negros e mulatos
- Figura de Clara dos Anjos: argumento vivo para embasar a denúncia da discriminação em relação aos suburbanos, os malefícios da alienação feminina, os problemas causados pela criação familiar super-protetora, a degradação a que os negros e mulatos se submetem devido à insensibilidade dos brancos.
- Fatalismo → generalização → caráter alegórico da figura de Clara dos Anjos
- O narrador interrompe a narração seguidas vezes para a fixação de tipos individuais suburbanos : matéria-prima da narrativa
- Epígrafe do livro: caráter histórico do abuso sexual contra as mulheres de cor → tragicidade, fatalismo, imutabilidade de um comportamento social condenável→ visão pessimista
Roteiro de leitura
· Joaquim dos Anjos, pai de Clara: “simplicidade de nascimento, origem e condição”
· Retrato crítico e sarcástico dos subúrbio: presença dos “bíblias”, os protestantes, que chegam até o subúrbio e arrebanham os menos favorecidos, que anseiam por algum tipo de escape da realidade cruel em que vivem. Há uma ironia em relação ao sincretismo religioso, pois os fiéis buscam alívio e conforto em outras religiões, mas não deixam de batizar seus filhos na igreja católica.
· Clara dos Anjos: garota com dezessete anos e uma criação recatada e super-protetora
· Marramaque: semi-paralítico de alguma instrução intelectual
· Lafões: guarda de obras públicas, português de nascimento, de maneiras simples, que irá introduzir a figura do “mestre do violão e da modinha”, Cassi Jones
· Cassi Jones: o insensível deflorador de virgens, é descrito de forma agressiva e sarcástica pelo narrador, que sempre ressalta sua falsidade e suas artimanhas para conquistar as virgens indefesas, sempre garotas suburbanas, negras e mulatas
· Mãe de Cassi: preconceituosa, defende e ignora as proezas do filho, para que ele não se case com uma analfabeta ou costureira mulata.
· O pai de Cassi repugna-lhe totalmente e, mais adiante na narrativa, expulsará o filho de casa.
· Caso de Nair, que vinha receber lições de música com a irmã de Cassi. Ele a seduziu com uma carta reproduzida de um modelo desse tipo de missiva, tomada de um poema de Leonardo Flores, poeta beberrão.
· Nair é seduzida, engravida, sua mãe se suicida com lisol, o que é noticiado em todos os jornais. A má fama de Cassi espalha-se.
· O narrador, além de construir a imagem de Cassi como um sedutor insensível, ironiza seus métodos de conquista ao transcrever trechos de sua carta mentirosa, com a ortografia errada e o uso de clichês românticos.
· Crítica ao Amor como escape para as mulheres do subúrbio, sem perspectivas de vida.
· Narrador considera Marramaque um homem capaz de julgar Cassi, devido a sua convivência com literatos, poetas e escritores.
· A visão de Marramaque sobre os marginalizados é sempre corroborada pelo narrador.
· Clara cresce mal-acostumada ao “simplório sentimentalismo amoroso” das músicas populares.
· Joaquim dos Anjos permite que Cassi venha tocar no aniversário da filha. Ao chegar, ele causa alvoroço nas moças.
· Crítica à inaptidão de Cassi e seus trejeitos ensaiados de conquistador, como o fato de revirar os olhos dramaticamente quando dedilha, de maneira tosca, seu violão.
· Engrácia, mãe de Clara, finalmente se manifesta e diz ter achado indecente a forma de Cassi tocar, e decide proibir que o moço venha em sua casa novamente, para desespero de Clara.
· Crítica a Engrácia, que recebera boa instrução, e esquecera o que tinha estudado depois de casada.
· Crítica às modinhas e ao idealismo romântico forjado por elas no espírito de Clara = alienação feminina.
· Cassi retorna à casa de Clara, mas é recebido com frieza por Joaquim
· Papéis e documentos sobre as “atuações” de Cassi circulavam nas mãos de delegados na forma de um caderno
· Descrição detalhada da pobreza suburbana
· Descrição naturalista = coexistência de uma visão, ao mesmo tempo, irônica e solidária em relação ao suburbano
· Os próprios juízes manifestam seu preconceito por acharem um absurdo o casamento forçado, por lei, de Cassi com suas vítimas, “devido à diferença de educação, de nascimento de cor, de instrução”.
· Cassi vai se valer de Menezes, um homem de setenta anos, com sonhos frustrados de engenheiro, alcoólatra e profundamente honesto. Ele está tratando dos dentes de Clara, e Cassi pede-lhe que encomende um poema ao amalucado poeta Flores.
· Imagem de Castorina, esposa de Flores: a esposa é vista de forma condescendente pelo narrador, pelo fato de ser negra → narrativa tendenciosa.
· Flores fica indignado com o pedido de Menezes de um poema encomendado → Figura da Arte: inatingível conciliação entre a vida e a obra de arte
· O narrador defende claramente a igualdade de sexos, ao criticar a alienação feminina.
· Revelação de quem espalha o caderno sobre Cassi: oficial do exército, marido de Nair, filha da suicida.
· Menezes faz os versos ele mesmo e os entrega a Cassi. O conquistador pede-lhe que entregue os versos e uma carta a Clara, e oferece-lhe algum dinheiro: o narrador explicita como os indivíduos se rebaixam por força das circunstâncias (falta de dinheiro, convivência com tipos corruptos, falta de instrução corrompem Menezes).
· Menezes fica sendo o intermediário entre Cassi e Clara. Através de D.Margarida, amiga da família, Engrácia, mãe de Clara, toma conhecimento da “relação” entre os dois.
· Joaquim, estranhamente, não se opõe ao enlace de Clara com Cassi. Marramaque continua a criticar ferozmente Cassi, e esse trama seu assassinato.
· Marramaque é morto a pauladas e alçado a herói pelo narrador.
· Menezes, ao saber do assassinato, sente-se quase um cúmplice, pois este passara a Cassi as cartas
· Cassi vende seus galos de briga e guarda o dinheiro para o caso de uma fuga
· Na cidade, Cassi encontra uma negra que havia sido sua primeira vítima, e fora expulsa da casa do sedutor, onde trabalhava, em adiantado estado de gravidez. Ela o humilha e revela que seu filho, com apenas dez anos, já se encontra detido (transcrição da fala popular nos diálogos).
· Clara analisa o próprio comportamento e amargura-se por ter se dado a Cassi e engravidado.
· Semi-demência de Menezes e sua morte ao lado do poeta Flores.
· Dr.Praxedes, um advogado simplório, revela eventualmente que Cassi mudara-se para São Paulo.
· D.Margarida, Engrácia e Clara vão falar com a mãe de Cassi, que as humilha.
· Ao final, acentua-se o caráter trágico da situação social vivida pela família de Clara. O narrador usa um tom moralista e cria um ambiente paranóico de perseguição contra os negros e mulatos, sempre vítimas do preconceito e da humilhação.