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2 de dezembro de 2006

Aula: Cora Coralina (Poemas dos Becos de Goiás e estórias mais)



Poemas dos becos de Goiás e estórias mais (Cora Coralina)
Na velhice dos muros de Goiás
O tempo planta avencas”

Ana Lins do Guimarães Peixoto Bretas nasceu em 20 de agosto de 1889, no estado de Goiás, e adotou o pseudônimo Cora Coralina para escrever suas poesias.
Foi tida como menina magricela e desengonçada. Porém, tomou uma decisão surpreendente, fugindo de casa em 1911 para se casar com Cantídio Bretas, um advogado divorciado. Morou então em São Paulo. Foi convidada para participar da Semana de Arte Moderna em 1922, mas recusou o convite. Acredita-se que por impedimento do marido.
Ainda jovem já produzia, mas sua primeira obra publicada foi aos 76 anos de idade com Poemas dos becos de Goiás e estórias mais (1965).
Voltou para Goiás onde morreu aos 95 anos, em 1985.
Obras: Meu livro de cordel (1976); Vintém de cobre (1983); Póstumas: Estórias da casa velha da ponte; Os meninos verdes e O tesouro da casa velha da ponte.

Poemas reunidos em duas partes
Primeira: composições líricas. Recontam as estórias da infância, dos becos de Goiás, da escola, das cidades, o canto e a rotina das boiadas e o poema do milho.
Segunda: tom de narrativa, documental. Há entre essas estórias o espaço para os marginalizados: “Mulher da vida”; “Menor abandonado”; “Oração do delinqüente” e “Oração do presidiário”.
Características gerais:
  1. Poesia de caráter telúrico, que demonstra o forte apego e amor à terra e ao que é gerado por ela.
  2. Simplicidade, forte acento sertanejo.
  3. Poemas voltados para questões sociais e históricas da região de Goiás.
  4. Prosaísmo: os poemas possuem um tom de conversa, que ora beira a informalidade, ora o preciosismo da busca da expressão mais adequada para abordar os temas simples do cotidiano e da vida passada da autora.
  5. Tom universalista: temas comuns aos homens, principalmente aos marginalizados socialmente.
  6. Preocupação em retratar costumes e hábitos antigos, e em contar estórias da vida interiorana.
  7. Constante apego à memória: a poesia é uma maneira de reviver o passado.
  8. Ausência de rimas e métrica (versos livres, brancos e bárbaros).

  • Traços modernistas:
    Preocupação em retratar uma linguagem tipicamente brasileira: regionalismos, arcaísmos, gírias, corruptelas, oralidade, linguajar do homem rude.
  • Técnica enumerativa, com seqüências de vocábulos nominais, que acaba por produzir um ritmo cinematográfico para os poemas. Privilegia-se mais o caráter descritivo do que o lado metafórico da escrita.
  • Aspectos nacionalistas, nativistas, primitivistas.
  • Exaltação ao progresso, à vida moderna.
  • Vocabulário moderno, diálogo com a vanguarda européia.
  • Uso também de termos eruditos, bíblicos, latinos, litúrgicos, mitológicos. Há uma religiosidade cristã que permeia a visão poética de Cora Coralina.
  • Referências às rezas latinas, estórias orientais e provérbios populares.

Gênero
1) Lírico. Lembra as elegias (canto de tristeza, melancolia): “E nunca realizei nada na vida./Sempre a inferioridade me tolheu./E foi assim, sem luta, que me acomodei / na mediocridade de meu destino”. “Minha infância” (p. 173)
2) Odes (canto de exaltação, elogio): “Muletas novas, prateadas e reluzentes./ Apoio singelo e poderoso/ de quem perdeu a integridade/ de uma ossatura intacta, (...)” “Ode às Muletas” (p.191)
3) O eu-lírico retrata sua natureza interior, mas se identifica com seres e objetos exteriores: “a cabocla velha”, “a lavadeira do rio vermelho”, “a mulher do povo, “a mulher da vida” e “o vintém de cobre”, objeto que metonimicamente representa sua infância.
4) Poesia fraterna, que se compadece dos marginalizados.
5) Cantos que remetem ao obscuro, aos becos, aos cantos esquecidos.

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