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18 de maio de 2007

Nove noites_Bernardo Carvalho : roteiro de leitura

Nove Noites (Bernardo Carvalho)

  • “Isso é para quando você vier. É preciso estar preparado. Alguém terá que preveni-lo.Vai entrar numa terra em que a verdade e a mentira não têm mais os mesmos sentidos que o trouxeram até aqui”. (relato de Manoel Perna)
  • Ao início, já há a idéia do segredo como única herança, antevendo o final da narrativa.
  • “As histórias dependem antes de tudo da confiança de quem as ouve, e da capacidade de interpretá-las”.(Relato de Manoel Perna)
  • O relato inventado do engenheiro sobre uma suposta última carta deixada por Buell Quain a um suposto conhecedor dos verdadeiros motivos do suicídio.

A tentativa do autor de buscar a verdade, inventando-a. A ficção como a busca da verdade.

· Sete cartas visando deixar o mundo em ordem: para a orientadora Ruth Benedict; D.Heloisa Alberto Torres, diretora do Museu Nacional; Manoel Perna, engenheiro de Carolina; Capitão Ângelo Sampaio, delegado; Dr. Eric P. Quain, seu pai; reverendo Thomas Young, missionário instalado em Mato Grosso; ao cunhado Charles Kaiser.

· Relato jornalístico sobre vida e obra de Quain e sua família (dados precisos e esmiuçados)

· Início de suposições por parte do jornalista: estranha ansiedade nas cartas da mãe de Quain à diretora do museu

· Carta de Quain a D.Heloisa, sobre sua suposta infecção

· Segundo os índios que acompanhavam o etnólogo, não havia traços de doença física; antes, a protração era psicológica, desde que recebera a última carta de casa

· O autor incita o mistério da morte através de evidências curiosas, que dificilmente serão comprovadas

· Com base nas apurações jornalísticas, ficcionais ou não, o autor vai tecendo o relato de Perna sobre Quain.

Impressões sobre Buell

1. Para Perna, um sujeito aflito, transtornado, enigmático

2. Para o autor, segundo depoimentos e cartas, um sujeito que não gostava de mostrar o quão rico era, isolado, idealista, solitário, fechado

  • “Isso é para quando você vier”(Perna) / “Ninguém nunca me perguntou, e por isso também não precisei responder” (autor)

Identificação do autor com engenheiro lhe permite construir relato fictício

  • Até que ponto Quain conseguiu relativizar sua visão dos Trumai? (não gosta do contato físico com os índios, acha-os feios, critica seus costumes, desrespeita-os)
  • Mas Quain se identifica com os índios negros da ilha do Pacífico Sul, o que é um paradoxo: segundo relato de Perna, ele encontrou na cultura dos trumai a representação coletiva do desespero que vivia (auto-destruição)
    1. Identificação:Nos aproximamos das pessoas que gostaríamos que fossem como nós e daquelas como as quais gostaríamos de ser
  • Metalinguagem: “As minhas explicações sobre o romance eram inúteis. Eu tentava dizer que, para os brancos que não acreditam em deuses, a ficção servia de mitologia, era o equivalente dos mitos dos índios, e antes mesmo de terminar a frase, já não sabia se o idiota era ele ou eu”.
  • A metalinguagem é fundamental no livro pois os percalços da pesquisa precisam ser evidenciados para dar veracidade à ficcionalidade = verossimilhança
  • Citação de Drummond: cada um aplica o sentido dos versos a sua própria experiência acumulada
  • Segundo Perna, Buell não se conformava com sua expressão, na foto, de espanto diante do desconhecido
  • Perna: para Quain, “ a morte é um excesso que se anula” (saturação, desespero)
  • A investigação, ao estilo romance policial, para descobrir se o moribundo ao lado de seu pai no hospital seria o fotógrafo e amante da mulher de Buell.
  • A deliberação de escrever uma história ficcional e o medo de que a verdade viesse à tona depois do romance publicado.
  • O filho do fotógrafo em NY: a revelação de que seu verdadeiro pai teria morrido no coração do Brasil quando tentava voltar para conhecê-lo, segundo carta do fotógrafo.
  • Sua mãe seria a amante dos dois? A carta seria forjada? Estaria o fotógrafo livrando-se de uma responsabilidade?
  • A história de Quain está sujeita, como qualquer outra, a fatos ligados à memória, percepção seletiva e subjetividade. Portanto, ocorre uma reinterpretação, reinvenção.

O que está em jogo em Nove Noites:

    1. contínuo mistério
    2. vazio de respostas relacionadas ao isolamento
    3. busca de identidade
    4. desajustes sociais
    5. instabilidade psíquica
    6. motivos que levam um indivíduo ao suicídio










ps: “Há muitos modos de afirmar; há um só de negar tudo” (Machado de Assis)

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