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[PROSA_Oficina de textos_UFMG 2011] Salinha para resolução de questões abertas de Literatura (vestibular UFMG 2011) . Informações: emaildoaloisio@yahoo.com.br

25 de setembro de 2008

Comentários_São Bernardo_2

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_Aloisio

_São Bernardo (Graciliano Ramos)

VIOLÊNCIA EM SÃO BERNARDO

Segundo o crítico Antônio Cândido, há dois tipos de violência no romance São Bernardo. A violência contra homens e o mundo, que resulta na conquista da fazenda — o próprio Paulo Honório diz que seu maior fito na vida era se apossar das terras de São Bernardo —, e a contra ele próprio, que resulta no livro. A violência é o suporte de seu modo de ser, e seu desejo de propriedade a legitima e justifica o extermínio sumário de vizinhos incômodos, como o Mendonça, a corrupção de jornalistas, como o Costa Brito, e a brutalização dos funcionários, como o Marciano.

A aquisição de São Bernardo aparentemente concretiza sua vitória sobre os obstáculos da origem humilde e do passado de subordinação, que são superados ou esmagados. Mas a violência voltada para dentro de si, motivada pelo ciúme que sente por Madalena, causa sua autodestruição, quando finalmente percebe a vacuidade de suas realizações materiais. Paulo sente uma necessidade nova, escrever, e dela surge uma nova construção: o livro que conta a sua derrota, através do qual terá uma visão ordenada de si e de suas atitudes.

No momento em que se conhece pela narrativa, destrói-se enquanto homem de propriedade. A narrativa é violenta para ele mesmo porque é obrigado a encarar a sua incapacidade de mudar tanto o destino de Madalena quanto o seu. Sabe que se voltasse atrás, agiria da mesma forma, o que transforma ambas as personagens em um casal trágico: o fim deles dois é imutável. Madalena está destinada ao fracasso, por não conseguir mudar as estruturas sociais da fazenda, Paulo, à solidão e ao vazio existencial, já que possuir São Bernardo não tem o mesmo valor de antes.

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_Aloisio

_São Bernardo (Graciliano Ramos)

AS MÃOS E O CIÚME DE PAULO HONÓRIO

O sentimento de propriedade despersonaliza o narrador-personagem e o faz ver-se constantemente como um monstro. Seu ciúme doentio advém do fato de não conseguir se apossar de Madalena, como fazia com todos ao seu redor. A esposa era insubmissa e tinha um espírito solidário, ao contrário do egoísta Paulo Honório. Por se sentir incapaz de dominar a esposa, e por crer que enquanto constrói seu capital, ela o destrói e o dissipa, ao ajudar os funcionários e pedir dinheiro para a escola, acusa-a de ser intelectual, de não crer em Deus e de ser comunista.

Pouco importa a verdade em relação a Madalena, já que o leitor se encontra junto aos pensamentos do narrador, e não dos da esposa. Por isso, é necessário pensar no que teria motivado tais reflexões de Paulo. Madalena era considerada por ele como intelectual porque tinha poder de argumentação; deveria não ter religião, já que era uma mulher livre e libertária; comunista, pois não se preocupava em juntar capital, como ele próprio fazia. O ciúme é, então, decorrente de sua fragilidade íntima, pois teria que subjugar a mulher de alguma maneira. Acusando-a de traição, iria se livrar do peso de ter de admitir que nunca a dominaria.

Mas a doença do ciúme o faz enxergar-se como uma criatura animalesca. Sempre quando se refere a si, fala de seu aspecto rude, das sobrancelhas espessas, da pele queimada de sol, das mãos calejadas e grossas, feito cascos de cavalo. Já Madalena tem as mãos finas, delicadas, cabelos loiros, olhos azuis, é quase uma figura angelical. O contraste físico aponta para as diferenças psicológicas entre os dois, e denota como Paulo projeta para sua aparência os tormentos que sente por saber-se responsável pelo suicídio de Madalena.

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