1. Pós-modernismo: ecletismo, pluralidade, fragmentos de informação
2. individualismo pós-moderno: satisfação imediata, hedonismo, crise de valores
3. sociedades pós-industriais: indivíduo sincrético, sua natureza é confusa, indefinida, plural, não-totalizante
4. pastiche: imitação irônica, recuperação de gêneros literários, colagem
Nos três contos, usa-se a narração como uma forma de se reviver o amor, que, no entanto, é inatingível, incompleto, ligado à transcendência, e que se realiza no ato da narração, mas que se perde quando finda o texto
Ironia: narrar = amar : efemeridade, transitoriedade, incompletude = “Dorothy disse que todas as histórias são pela metade” (As cartas não mentem jamais)
Uma carta
Beatriz escreve uma carta para Carlos onde irá reviver a experiência sexual fugaz que tiveram
Ela é uma engenheira de uma cidade pequena, ele é secretário do governo, casado, em visita profissional
A construção da carta se dará como o processo de uma relação entre estranhos: descobrimento, desvendamento de impulsos carnais, clímax e afastamento
Para Beatriz, seus sentimentos “são como as obras que necessita edificar”
Propósito da carta: “Porque é nesta escrita e construção – e esta sua razão maior – que as coisas parecem ter acontecido, tornam-se reais e vivas. Escrevo para repetir, viver”.
A carta como um prolongamento do encontro e o encontro como um “pretexto” para a carta (complementaridade)
Se houvesse o gozo, não haveria a carta, e depois o vazio (descontinuidade)
Final: “Seja ou não violada esta carta, estará aqui esta mulher abrindo as pernas para o amante (...) esta pornografia como uma construção assinada também pelo corpo...”.
O monstro
Antenor Lott Marçal, 45 anos, professor universitário é preso por assassinato e estupro de Frederica Stucker, 20 anos, portadora de uma grave deficiência visual. Foi auxiliado (ou induzido) pela amante Marieta de Castro, 34 anos, que se suicidou ao saber que Antenor se entregaria à polícia.
Pastiche: reportagem policial = objetividade, levantamento de informações, sensacionalismo (revista Flagrante)
Discussão das formas grotescas e agressivas como o amor e o desejo sexual se manifestam
Na entrevista, Antenor revela a personalidade dominadora de Marieta
“Marieta queria verdadeiramente, as pessoas que a interessavam e a atraíam. A diferença, aquilo que Marieta não possuía ou atribuía a outrem, a exasperava”.
Ela queria desmistificar as pessoas, torná-las seres comuns
Encontro de Marieta com Frederica na Lagoa Rodrigo de Freitas, uma possível sedução
Antenor era uma espécie de escravo da amante que não se rebelava
Marieta queria transcender os limites da experiência física, ultrapassando o sexo
Voyerismo: ciúmes de Marieta, pois Antenor devora com os olhos Frederica, que já se encontra no apartamento da amante. Marieta coloca calmantes na bebida da garota. Enquanto ambos seviciam a garota, ela acorda. Eles a drogam com éter e cocaína, e a asfixiam com uma almofada. Frederica morre.
Antenor consuma o ato para satisfazer uma “voracidade sem limites” da amante– Marieta está novamente no controle da situação.
Fantasias de amor com Frederica para amenizar a violência do ato
Sexualidade: “crueldade e amor”
Sensação de aniquilamento depois do ato = desejo extinto, novamente revivido na memória, durante a entrevista = modo de Antenor possuí-la outra vez e protegê-la de Marieta
Eles carregam o corpo até um lugar ermo.
“Marieta não suportava a frustração. Havia uma espécie de pureza infantil em sua amoralidade. O fato é que se você tiver a psicologia de uma criança em um adulto dotado de força e inteligência, eis o monstro”
Antenor se entrega à polícia para sentir-se livre para amar Frederica e espera por uma transcendência, onde possa talvez encontrá-la
Força selvagem da sexualidade e do desejo como a natureza da criação
As cartas não mentem jamais
Narrativa em abismo: uma narrativa dentro de outra = metalinguagem
O pianista Antônio Flores e uma jovem francesa de 16 anos, Michelle, conversam após uma relação, no quarto de hotel onde Antônio está hospedado
A discussão e a curiosidade sobre a iniciação sexual de ambos e a menção da figura de Madame Zenaide
O pianista carioca está em Chicago, com uma francesa, falando inglês, conhecerá uma psicanalista que mora em Las Vegas, e irá falar com ela, pelo telefone, de Tóquio (Globalização)
Antônio fala sobre sua infância e suas composições a Michelle (Sinfonia da bola nº1, Sonata Atlântica) = composições de Flores interpretadas até pelo famoso maestro Karajan = mistura de elementos reais e ficcionais
Amor por Estela e a relação com a Sonata Atlântica. A traição da garota com outro garota da rua em que moravam: “queria que o outro rapaz possuísse Estela ali às minhas vistas, para que o meu aniquilamento fosse completo e definitivo”.
Conversa telefônica com René, pai de Michelle, e Dorothy, a psicanalista de Las Vegas
Gravação em fita da história sobre Madame Zenaide, para que Dorothy pudesse escutar: levado pela empregada, Antônio vai até ela para curar sua depressão, através da leitura de seu destino nas cartas
Nas cartas, a visão da morte, do sucesso e das mulheres: Estela, uma dama negra e uma de cabelos ruivos.
Madame Zenaide muda o destino de Antônio, iniciando-o sexualmente. O avô de Antônio fora um compositor de marchinhas de carnaval, que morrera no sótão do casarão em que moravam, embriagado de lança-perfume, pois sua mulher não o deixara sair para o carnaval. Zenaide, simbolicamente, livra Antônio de seguir o mesmo caminho de auto-destruição do avô.
Relação sexual de Antônio com a garota Estela : satisfação de um impulso sexual que logo se extingue, para se perpetuar na memória
Antônio Flores deixa Michelle dormindo no quarto de hotel: “o ato terminou e ele deve abandonar a cena para não estragá-la, para que as notas continuem a repercutir no tempo”
Conversa com Dorothy direto de Tóquio: Antônio carrega dentro de si a antiga casa e a cartomante = as cartas foram lidas outra vez em Chicago = os acontecimentos futuros mudam sempre quando se troca a posição das cartas
Ao final, fica subentendido que Antônio terá com Dorothy o mesmo tipo de relação que tivera com Michelle. No entanto, pode-se questionar se a história contado por ele, e gravada por Michelle, da dama de cabelos ruivos vislumbrada nas cartas, não poderia ter sido inventada, como uma forma de sedução.
Questões da UFV
29. O conto “O monstro”, de Sérgio Sant´anna, narra a história do estupro e do
assassinato de uma jovem – Frederica – que sofria de deficiência visual. A
respeito deste conto, marque a afirmativa INCORRETA:
a) O tema central do conto é a violência, tratada de forma simplista e banal
tal como aparece nos jornais sensacionalistas que, rotineiramente,
estampam as suas primeiras páginas com crimes hediondos.
b) O narrador tenta desvendar, através da consciência do assassino, as
causas que o levaram a cometer o crime.
c) A linguagem jornalística, também presente no conto, é misturada com
reflexões de cunho psicológico e filosófico sobre os limites humanos.
d) O conto origina-se do mesmo mote que inspira os romances policiais,
mas se diferencia deles porque parte, a priori, do assassino já
conhecido.
e) A estrutura pela qual é formada o conto – perguntas e respostas – deixa
entrever nos parênteses abertos, antes das respostas do entrevistado, a
sensibilidade do assassino.
30. Nos contos “Uma Carta” e “As cartas não mentem jamais”, de Sérgio
Sant’anna, encontramos características da narrativa pós-moderna, isto é,
da produção literária contemporânea. Assinale a alternativa que contém
uma característica dessa narrativa:
a) O paradoxo entre os acontecimentos reais e transcendentais.
b) A linguagem como instrumento de construção de sentidos.
c) O bucolismo das paisagens rurais contrapondo com as cenas urbanas.
d) A presença de narrativas longas e descritivas, como no Romantismo.
e) A mistura de elementos da natureza e da cultura estrangeira.
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