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8 de setembro de 2008

Comentários_São Bernardo_1

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_Aloisio

_São Bernardo (Graciliano Ramos)

FAZENDA SÃO BERNARDO

Para se tornar proprietário e patrão, Paulo Honório luta com as armas que a própria sociedade capitalista lhe deu: o individualismo e a necessidade de acumulação de capital. Como é incapaz de estabelecer relações afetivas, já que todas suas relações com o outro são mediadas pela lógica do lucro, imprime em si a marca maior do meio em que cresceu e viveu, a desigualdade. Desprezado pelos pais, tido como um refugo — ele mesmo afirma que os pais deviam ter suas razões para não querê-lo —, criado por uma humilde doceira, Paulo Honório vence sozinho, pois, depois de ficar mais de três anos preso por esfaquear arbitrariamente um sujeito que se relacionara com uma mulher com quem ele, Paulo, estava envolvido, aprende a ler, escrever, fazer contas, tira título de eleitor e adquire empréstimos, para comprar mercadorias e negociar pelo sertão.

Ganha dinheiro, cobrando dívidas com uma violência persuasiva, e se apossa das terras de São Bernardo. Para alcançar seus objetivos, se vale de instituições sociais como a igreja, os cartórios, os tribunais e o governo, já que o narrador tem em seu auxílio o advogado Nogueira, o jornalista Gondim, o juiz Magalhães e até o Padre Silvestre, com quem negocia a construção de uma igreja na fazenda. Paulo afirma crer em Deus, como um pagador de seus funcionários explorados e castigador daqueles que o furtaram, numa típica atitude de vítima. Posteriormente, construirá a escola, um claro indício do progresso material que deseja implementar em São Bernardo; porém esse é um progresso que não leva em consideração o homem. O escola só é erguida por causa de uma atitude política, para agradar ao governador quando viesse à fazenda novamente. Paulo não quer funcionários que pensem e questionem, e ainda insiste em dizer que cultiva a ilusão, fazendo-os crer que, na verdade, era ele que trabalhava para os peões e agregados. Tanto a escola e a igreja são tidas como capital, sua construção objetiva tão somente gerar lucro, ou benefícios.

A fazenda São Bernardo repete as mesmas regras sociais e o modelo de desenvolvimento das cidades, marcadas pelo capitalismo industrial, no entanto, com vistas a dar lucro somente a um indivíduo, o próprio narrador. Através das inovações tecnológicas introduzidas na fazenda e de vários empreendimentos, percebe-se como ela simboliza a penetração dos elementos capitalistas no campo brasileiro. Isso quer dizer que Paulo Honório quer mais produção, mais lucro, mais acumulação de capital, o que, consequentemente, gerará mais desigualdade, menos distribuição de renda, e mais violência.

Graciliano Ramos escreve uma literatura regionalista crítica, e ao compor São Bernardo, e principalmente ao construir um autor-narrador com tamanha complexidade psicológica, demonstra como os aspectos políticos e sociais são, muitas vezes, quase indistinguíveis dos pessoais e humanos.

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_Aloisio

_São Bernardo (Graciliano Ramos)

PAULO HONÓRIO E MADALENA

As relações reificadas que Paulo Honório mantém com os indivíduos levam o narrador-personagem à autodestruição, por causa da impossibilidade de mudar a si mesmo, de se transformar numa pessoa capaz de manifestar afeto, principalmente com a esposa, inalcançável no momento da escrita da mesma maneira que quando viva. A profundidade analítica de Paulo parte do contexto sócio-econômico para atingir o complexo social. Percebe-se, então, com absorveu, ao longo de sua ascensão, toda a agressividade do sistema de competição típico do mundo capitalista.

Paulo, ao final da narrativa, diz que não adianta se iludir, pois sabe que, caso voltasse e pudesse mudar a maneira como agia, principalmente com a esposa, não o faria. Assim, nem Paulo Honório nem Madalena conseguem se realizar humanamente, pois, ao mesmo tempo em que Graciliano Ramos tenta desvendar as desigualdades do capitalismo, mostra como são abstratas as perspectivas para um mundo novo, por causa da ausência de uma classe social verdadeiramente revolucionária. Como Madalena, os indivíduos que se opõem à rígida separação de classes imposta pelo capitalismo permanecem solitários e impotentes, e o socialismo — ou comunismo, como o narrador o nomeia — aparece como uma aspiração subjetiva, sem encontrar na realidade as possibilidades concretas de sua execução.

Madalena, uma criatura solidária, emotiva, sensível, com dedos longos e mãos finas e delicadas, é a antíteses desse narrador que se vê com deformidades monstruosas, com mãos enormes, cabeludas e calejadas — é interessante ressaltar que os contrastes são tanto físicos quanto psicológicos. Tão separados e contrastantes, têm, contudo, um fator comum: o fracasso. À medida em que Paulo ascende social e economicamente, decai intimamente, e acaba solitário e amargurado, num profundo desespero existencial, por saber que nunca entenderá completamente a mulher que fora sua esposa, e que lhe negara a posse, que se recusara a ser tratada como coisa, objeto, e por isso se suicida. Já Madalena tenta modificar em vão a estrutura social de uma fazenda cuja existência deve-se exclusivamente à satisfação da ganância desmesurada do proprietário.

2 comentários:

Anônimo disse...

valeu professor pela força e atençao com o pessoal do chromos venda nova

Anônimo disse...

sou seu aluno no chrmos centro e queria lhe fazer uma pergunta:

É certo dizer que o Paulo Honório fica tentando arranjar um culpado por tudo o que aconteceu com ele e com a sua vida?

E hoje você falou que não sabe se ele ama a Madalena de verdade, ai houve a discussão se ele já amou alguém de verdade.Percebi no livro um único sentimento que se aproximou do amor, que ocorre todas as vezes que ele fala daquela velha(não me lembro o nome dela) que ele levou para morar em São Bernardo, parece ser pena ou gratidão, mais são os únicos sentimentos bons que percebi nele!!!

me responda pelo meu e-mail por favor:

filipi_junio@hotmail.com