O BURRINHO PEDRÊS
"E, ao meu macho rosado,
carregado de algodão,
preguntei: p'ra donde ia?
P'ra rodar no mutirão."
(VELHA CANTIGA, SOLENE, DA ROÇA.)
ERA UM BURRINHO PEDRÊS, miúdo e resignado, vindo
de Passa-Tempo, Conceição do Serro, ou não sei onde no
sertão. Chamava-se Sete-de-Ouros, e já fora tão bom, como
outro não existiu e nem pode haver igual.
(...)
Mas nada disso vale fala, porque a estória de um burrinho,
como a história de um homem grande, é bem dada no resumo de um só dia de sua vida. E a existência de Sete-deOuros cresceu toda em algumas horas - seis da manhã à
meia-noite - nos meados do mês de janeiro de um ano de
grandes chuvas, no vale do Rio das Velhas, no centro de
Minas Gerais.
(...)
Enfarado de assistir a tais violências, Sete-de-Ouros fecha
os olhos. Rosna engasgado. Entorna o frontispício. E, cabisbaixo, volta a cochilar. Todo calma, renúncia e força não
usada. O hálito largo. As orelhas peludas, fendidas por
diante, como duas mal enroladas folhas secas. A modorra,
que o leva a reservatórios profundos. As castanhas incompletas das pernas. As imponentes ganachas. E o estreme
alheamento de animal emancipado, de híbrido infecundo,
sem sexo e sem amor.
(...)
E Sete-de-Ouros, que sabia do ponto onde se estar mais
sem tumulto, veio encostar o corpo nos pilares da varanda.
Deu de cabeça, para lamber, veloz, o peito, onde a cauda não
alcançava. Depois, esticou o sobrebeiço em toco de tromba
e trouxe-o ao rés da poeira, soprando o chão.
Mas tinha cometido um erro. O primeiro engano seu nesse dia. O equívoco que decide do destino e ajeita caminho à
grandeza dos homens e dos burros. Porque: "quem é visto
é lembrado", e o Major Saulo estava ali:
- Ara, veja, louvado tu seja! Hô-hô... Meu compadre
Sete-de-Ouros está velho ... Mas ainda pode agüentar uma
viagem, vez em quando ... Arreia este burro também,
Francolim!
- Sim, senhor, seu Major. Mas, o senhor está falando
sério, ou é por brincar?
- Me disseram que isto é sério. Fecha a cara, Francolim!
Com a risada do Major, Sete-de-Ouros velou os olhos,
desgostoso, mesmo sem saber que eram donas de duras as
circunstâncias. Francolim viera contar que não havia montadas que chegassem: abrira-se um rombo na cerca do fundo
do pasto-do-açude, por onde quase toda a cavalhada varara
durante a noite; a esta hora, já teriam vadeado o córrego e
descambado a serra, e andariam longe, certo no Brejal, lambendo a terra sempre úmida do barreiro, junto com os bichos do campo e com os bichos do mato.
(...)
- Ara viva! Está na hora, João Manico meu compadre.
Você e o burrinho vão bem, porque são os dois mais velhos
e mais valentes daqui... Convém mais você ir indo atrás,
à toa. Deixa para ajudar na hora do embarque ... E o Sete-de-Ouros é velho, mas é um burro bom, de gênio ... Você
não sabe que um burro vale mais do que um cavalo, Manico? ...
- Compadre seô Major, para se viajar o dia inteiro, em
marcha de estrada, estou mesmo com o senhor. Mas, para
tocar boiada, eh, Deus me livre que eu quero um burrinho assim! ...
Canções:
"O Curvelo vale um conto,
Cordisburgo um conto e cem.
Mas as Lages não têm preço,
Porque lá mora o meu bem. .. "
(...)
"Um boi preto, um boi pintado,
cada um tem sua cor.
Cada coração um jeito
de mostrar o seu amor."
Boi bem bravo, bate baixo, bota baba, boi berrando...
Dança doido, dá de duro, dá de dentro, dá direito ... Vai,
vem, volta, vem na vara, vai não volta, vai varando ...
"Todo passarinh' do mato
tem seu pio diferente.
Cantiga de amor doído
não carece ter rompante... "
(...)
"Chove, chuva, choverá,
Santa Clara a clarear
Santa Justa há-de justar
Santo Antônio manda o sol
P'ra enxugar o meu lençol... "
(...)
E certo: Sete-de-Ouros dava para trás, incomovível, desaceitando argumentos e lambadas de piraí. Que, também,
burro que se preza não corre desembestado, como um qualquer cavalo, a não ser na vez de justa pressa, a serviço do
rei ou em caso de sete razões. E já bastante era a firmeza
com que se escorava nas munhecas, sem bambeio nem falseio
- ploque-plofe, desferrado - ganhando sempre a melhor
trilha.
(...)
- Escuta uma pergunta séria, meu compadre João Manico: você acha que burro é burro?
- Seô Major meu compadre, isso até é que eu não acho
não. Sei que eles são ladinos demais ...
Bem que Sete-de-Ouros se inventa, sempre no seu. Não
a praça larga do claro, nem o cavouco do sono: só um remanso, pouso de pausa, com as pestanas meando os olhos, o
o mundo de fora feito um sossego, coado na quase-sombra
e, de dentro, funda certeza viva, subida de raiz; com as orelhas -
espelhos da alma - tremulando, tais ponteiros de
quadrante, aos episódios para a estrada, pela ponte nebulosa
por onde os burrinhos sabem ir, qual a qual, sem conversa,
sem perguntas, cada um no seu lugar, devagar, por todos os
séculos e seculórios, mansamente amém.
(...)
Enquanto isso tudo, na coberta do Reynéro, ali perto,
afrouxadas as barrigueiras e tirados os freios, os cavalos descansavam. Longe dos outros, deixado num extremo, no canto
mais escuro e esquerdo do telheiro, Sete-de-Ouros estava.
Só e sério. Sem desperdício, sem desnorteio, cumpridor de
obrigação, aproveitava para encher, mais um trecho, a infinda lingüiça da vida.
De repente, na mata resseca do sonho, crepitou e chamejou o barulho: houve homens, indesejados, se mexendo,
como bichos-de-queijo na boa espessura do silêncio. Eram os
vaqueiros, voltando, em busca dos animais seus. Chegaram,
montaram, saíram. Penúltimo, Silvino, pegando o amarilho
crinudo; último, João Manico, pondo mão no poldro pampa;
rindo e falando, muito, os dois. Com o que, no prazo de
um bom coice, e a não ser pelo mulo mísero Sete-de-Ouros,
ficou vazio o galpão. Era uma vez, era outra vez, no umbigo
do mundo, um burrinho pedrês.
(...)
- Eh, meu velho, coitado, que trapalhada! Estou doente, dei na fraqueza, com este miolo meu zanzando, descolado
da cabeça ... Muito doente ... Estou com medo de morrer
hoje ... Mas, se você fosse mais leve, compadre, eu era
capaz de te carregar! ...
- Veio com o como cheio... Está bêbado que nem
gambá.
- Ei, Silvino, por que é que você está chegando para
perto do Badu, aí no escuro, coisa que você não deve de
fazer?! Não consinto, não está direito, por causa que vocês
estão brigados, e ainda mais agora, que o outro está tão
bêbado assim!
- Tu arrepende essa boca, Francolim! filho de outra.
Desarreganha, sai por embaixo! ... Eu vou aonde eu
quero! ...
- João, corta pau! João, corta pau!
- Não adianta bufar que nem tigre, Silvino, que eu
estou falando de paz, só na lei, no nome de seu Major!
- Não é caso de briga, Silvino, porque alguma razão
Francolim tem.
- Alguma, não! Razão inteira, porque estou representando seu Major, por ordem dele, e meu revólver pode parir
cinco filhotes, para mamarem no couro de quem trucar defalso!
- Deixa de valentia boba, Francolim!
- Juízo, gente! Olha o burro ...
Sete-de-Ouros parara o chouto; e imediatamente mente tomou
conhecimento da aragem, do bom e do mau: primeiro, orelhas firmes, para cima - perigo difuso, incerto; depois, as
orelhas se mexiam, para os lados - dificuldade já sabida,
bem posta no seu lugar. E ficou. A treva era espessa, e um
burro não é gato e nem cobra, para querer enxergar no escuro. Ele não espiava, não escutava. Esperava qualquer coisa.
(...)
Mas um rebojo sinuoso separou-os todos. O córrego crispou uma sístole violenta. E ninguém pôde mais acertar
caminho.
Se Badu estivesse um pouco menos bêbado, teria sido
mais prudente: seu a seu, porém, sentindo o frio duro nas
coxas, apenas se agarrou, com força, ao burrinho.
- Ei, aguão! ...
Pendeu demais, seguras as mãos na crina. Cabeceou e
molhou a cara. Cuspiu. Vai, vai, que o burrinho avançava.
- Te vi, meu velho! O mundo está se acabando em melado! ... - e rogou uma praga imoral, porque os gorgolões
lhe repassavam cócegas no queixo, e tinha cãibras nas barrigas-das-pernas, tudo no desconforto de cruzar a cavalo um
rio fundo, sem ter firmeza nenhuma, pois a água, por si
sozinha, levanta o cavaleiro da sela, e o mesmo seria estar
sentado numa plasta de angu mole.
- Ai, meu Deus, que nem beber não posso, que só disse
copo e meio em antes, garrafa e meia ao depois! ... Vam'embora, burro meu!
Contra o dito, sem porquê, bom e melhor que Badu estava como estava, que para córrego cheio mais vale homem
muito ébrio, em cima de burro mui lúcido.
(...)
Vestindo água, só saído o cimo do pescoço, o burrinho
tinha de se enqueixar para o alto, a salvar também de fora
o focinho. Uma peitada. Outro tacar de patas. Chu-áa!
Chu-áa... - ruge o rio, como chuva deitada no chão. Nenhuma pressa! Outra remada, vagarosa. No fim de tudo, tem
o pátio, com os cochos, muito milho, na Fazenda; e depois
o pasto: sombra, capim e sossego... Nenhuma pressa.
Aqui, por ora, este poço doido, que barulha como um fogo,
o faz medo, não é novo: tudo é ruim e uma só coisa, no
caminho: como os homens e os seus modos, costumeira confusão. É só fechar os olhos. Como sempre. Outra passada,
na massa fria. E ir sem afã, à voga surda, amigo da água,
bem com o escuro, filho do fundo, poupando forças para o
fim. Nada mais, nada de graça; nem um arranco, fora de
hora. Assim.
(...)
Alguém que ainda pelejava, já na penúltima ânsia e farto
de beber água sem copo, pôde alcançar um objeto encordoado que se movia. E aquele um aconteceu ser Francolim
Ferreira, e a coisa movente era o rabo do burrinho pedrês.
E Sete-de-Ouros, sem susto a mais, sem hora marcada, soube
que ali era o ponto de se entregar, confiado, ao querer da
correnteza. Pouco fazia que esta o levasse de viagem, muito
para baixo do lugar da travessia. Deixou-se, tomando tragos
de ar. Não resistia. Badu, resmungava -más palavras, sem
saber que Francolim se vinha agüentando atrás, firme na
cauda do burro. Aí, nesse meio-tempo, três pernadas pachorrentas e um fio propício de corredeira levaram Sete-de-Ouros
ao barranco de lá, agora reduzido a margem baixa, e ele
tomou terra e foi trotando. Quando estacou, sim, que não
havia um dedo de água debaixo dos seus cascos. E, ao fazer
alto, despediu um mole meio-coice. Francolim - a pé, safo.
Badu agora dormia de verdade, sempre agarrado à crina.
Mas Sete-de-Ouros não descansou. Retomou a estrada, e, já
noite alta, quando chegaram à Fazenda, ele se encostou, bem
na escada da varanda, esperando que o vaqueiro se resolvesse
a descer. Ao fim de um tempo, o cavaleiro acordou. Bradou
nomes feios, e começou a cantar um ferra-fogo - dança
velha, que os negros tinham de entoar em coro, fazendo de
orquestra para o baile dos senhores, no tempo da escravidão.
Aí, os camaradas que dormiam no paiol grande despertaram
com a algazarra, vieram desmontá-lo, e carregaram com ele,
para curtir a bebedeira num jirau. Depois, desarrearam o
burrinho.
Folgado, Sete-de-Ouros endireitou para a coberta. Farejou o cocho. Achou milho. Comeu. Então, rebolcou-se, com
as espojadelas obrigatórias, dançando de patas no ar e esfregando as costas no chão. Comeu mais. Depois procurou um
lugar qualquer, e se acomodou para dormir, entre a vaca
mocha e a vaca malhada, que ruminavam, quase sem bulha,
na escuridão.
SARAPALHA
"Canta, canta, canarinho, ai, ai, ai ...
Não cantes fora de hora, ai, ai, ai ...
A barra do dia aí vem, ai, ai, ai ...
Coitado de quem namora!..."
(O TRECHO MAIS ALEGRE, DA CANTIGA
MAIS ALEGRE, DE UM CAPIAU BEIRA-RIO.)
(...)
Manhãzinha fria. Quando os dois velhos - que não são
velhos - falam, sai-lhes da boca uma baforada branca, como
se estivessem pitando. Mas eles ainda não tremem: frio mesmo frio vai ser d'aqui a pouco.
Há mais de duas horas que estão ali assentados, em silêncio, como sempre. Porque, faz muito tempo, entra ano e
sai ano, é toda manhã assim. A preta vem com os gravetos
o a lenha. Os dois se sentam no cocho, Primo Argemiro da
banda do rio, Primo Ribeiro do lado do mato. A preta acende o foguinho. O cachorro corre, muitas vezes, até lá na
tranqueira, depois se chega também cá para perto. A preta
traz café e cachaça com limão. Primo Argemiro sopra os
tições e ajunta as brasas. E, um pouco antes ou um pouco
depois do sol, que tem um jeito de aparecer sempre bonito
o sempre diferente, Primo Ribeiro diz:
- Ei, Primo, aí vem ela ...
- Danada! ...
- Olh'ele aí ... o friozinho nas costas ...
E quando Primo Ribeiro bate com as mãos nos bolsos,
é porque vai tomar uma pitada de pó. E quando Primo Argemiro estende a mão, é pedindo o comimboque. E quando
qualquer dos dois apóia a mão no cocho, é porque está sentindo falta-de-ar.
E a maleita é a "danada";- "coitadinho" é o perdigueiro;
"eles", a gente do povoado, que não mais existe no povoado;
e "os outros" são os raros viajantes que passam lá em-baixo
porque não quiseram ou não puderam dar volta para pegar
a ponte nova, e atalham pelo vau.
(...)
- Primo Ribeiro, o senhor gosta d'aqui? ...
- Que pergunta! Tanto faz... É bom, p'ra se acabar
mais ligeiro... O doutor deu prazo de um ano... Você
lembra?
- Lembro! Doutor apessoado, engraçado... Vivia atrás
dos mosquitos, conhecia as raças lá deles, de olhos fechados,
só pela toada da cantiga... Disse que não era das frutas
e nem da água... Que era o mosquito que punha um bichinho amaldiçoado no sangue da gente... Ninguém não
acreditou... Nem o arraial. Eu estive lá, com ele...
- Primo Argemiro, o que adianta...
. . . E então ele ficou bravo, pois não foi? Coineu
goiaba, comeu melancia da beira do rio, bebeu água do Pará,
e não teve nada...
- Primo Argemiro.. .
.. Depois dormiu sem cortinado, com janela aberta... Apanhou a intermitente; mas o povo ficou acreditando...
(...)
- Eu acho até que é bom falar. Quem sabe ... Assim
ao menos, não fica roendo, doendo dentro da gente ...
- É mesmo. P''ra desacochar. Eu nem sei como o sen
não morreu, quando ...
- Chorei no escondido. Agora não me importo
contar.
- Ela foi uma ingrata, não foi, Primo Ribeiro?. .
a penando por aí à toa. Agora, o tal, esse... Mesmo
ente e assim acabado, eu ainda havia de ...
- Sossega, Primo Ribeiro. Levanta os braços: o senhor
á botando sangue pelo nariz ...
- É de ficar com a cabeça abaixada. Já, já, passa.
- É não. É da doença...
- Já, já, passa.
- Ai, Primo Ribeiro, por que foi que o senhor não me
xou ir atrás deles, quando eles fugiram? Eu matava o
mem e trazia minha prima de volta p'ra trás ...
- P'ra que, Primo Argemiro? Que é que adiantava?.. .
não podia ficar com ela mais ... Na hora, quando a MaPreta me deu o recado dela se despedindo, mandando dique ia acompanhar o outro porque gostava era dele e
gostava mais de mim, eu fiquei meio doido ... Mas
quis ir atrás, não ... Tive vergonha dos outros ... To-o-mundo já sabia ... E, ela, eu tinha obrigação de matambém, e sabia que a coragem p'ra isso havia de fal... Também, nesse tempo, a gente já estava amaleitados,
s não estava? ... Foi bom a sezão ter vindo, Primo Argero, p'ra isto aqui virar um ermo e a gente poder ficar mais
inhos ... Ai, Primo, mas eu não sei o que é que eu tenho
e, que não acerto um jeito de poder tirar a idéia dela...
mundo! ...
(...)
Bem que havia de ser razoável ter podido ao menos dizer a prima que ela era o seu amor ... Porque, assim, tinha
fugido sem saber, sem desconfiar de nada ... Mas ele nunca
pensara em fazer um malfeito daqueles, ainda mais morando
na casa do marido, que era seu parente... Isso não! Queria
só viver perto dela ... Poder vê-Ia a todo instante ...
E Primo Ribeiro nunca tinha posto maldade ... Também, que é que havia, para ele poder maldar? ... Nada...
Só, Uma vez, debaixo das jabuticabeiras ... Nesse dia, quase
que perdera a força de ser correto. Viu-a de vestido azul-domar ... Os braços cor de jenipapo ... As mãos deviam de
ser macias ... Mas Deus ajudou, tirando-lhe a coragem...
Também, se tivesse faltado com o respeito à mulher do Primo Ribeiro, teria sumido no mundo, na mesma da hora,
com remorso ...
(...)
... Não adiantou ter sido tão direito ... Se ele, Primo
Argemiro, tivesse tido coragem ... Se tivesse sido mais esperto ... Talvez ela gostasse ... Podia ter querido fugir
com ele; o boiadeiro ainda não tinha aparecido ... Agora,
ela havia de se lembrar, achando que era um pamonha, um
homem sem decisão ... E, no entanto, viera para a fazenda
só por causa dela ... Primo Ribeiro não punha malícia em
coisa nenhuma ... Sim, os dois tinham sido bem tolos, só o
homem de fora era quem sabia lidar com mulher! ...
Não! Fez bem. Era a mesma coisa que crime! ... Nem é
bom pensar nisso ... Amanhã ele vai ao capoeirão, tirar mel
de irussu para o Primo Ribeiro ... Deus que livre a gente
desses maus pensamentos! ... Primo Ribeiro vai ficar satisfeito: ele gosta de mel do mato, com farinha ... Primo Ribeiro vai ter sua alegriazinha... - P'ra que é que há-de
haver mulher no mundo, meu Deus?! ...
(...)
Estremecem, amarelas, as flores da aroeira. Há um frêmito nos caules rosados da erva-de-sapo. A erva-de-anum
crispa as folhas, longas, como folhas de mangueira. Trepidam, sacudindo as suas estrelinhas alaranjadas, os ramos da
vassourinha. Tirita a mamona, de folhas peludas, como o
corselete de um cassununga, brilhando
derruba frutinhas fendilhadas, entrando em convulsões.
- Mas, meu Deus, como isto é bonito! Que lugar bonito p'r'a gente deitar no chão e se acabar! ...
É o mato, todo enfeitado, tremendo também com a sezão.
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