Os melhores poemas de Alphonsus de Guimaraens
Prof.Aloisio
Simbolismo (final do século XIX)
- estética baseada no subjetivo, no pessoal, na sugestão e no vago, no misteriosos e ilógico, na expressão indireta e simbólica
- o artista não deve dar nome ao objeto, nem mostrá-lo diretamente, mas sugeri-lo, evocá-lo pouco a pouco (Mallarmé)
- a arte como fonte de fortes experiências emocionais e como revelação do mistério do mundo
- poesia de sugestões e musicalidade, correspondências e inter-relações de sentidos
- o simbolismo é o resultado final de um desenvolvimento que se iniciou com o romantismo, com a descoberta da metáfora como a base da poesia e da exploração da psique humana
- mas o simbolismo repele o romantismo devido ao seu excesso de sentimentalismo, por isso volta-se para a exploração das imagens subconscientes e inconscientes
- poesia simbolista : surge do espírito irracional, oposta a toda interpretação lógica; correspondências criadas entre o concreto e o abstrato, o material e o ideal
- poesia voltada para o eu: o que importa são os estados da alma do poeta, por isso há atitudes anti-racionais e místicas, o tom idealista e religioso, a tendência ao isolamento = exploração do inconsciente através dos símbolos e das sugestões para compreender a vida através da intuição e do irracional
- as palavras poéticas transforma-se em símbolos de vivências místicas e sensoriais indizíveis, intraduzíveis, mas passíveis de ser evocadas e sugeridas por meio de metáforas, analogias e sinestesias
- aproveitamento de elementos musicais, tonais e rítmicos, e da cor (sinestesias)
- utilização de letras maiúsculas em substantivos comuns, para torná-los absolutos
- as manifestações metafísicas espirituais da poesia simbolista correspondem à negação da objetividade e do excesso de racionalismo do realismo
· atitude religiosa do simbolismo :
1. ênfase no mundo da beleza ideal
2. aproveitamento da liturgia — o conjunto dos elementos e práticas do culto religioso (missa, orações, cerimônias, sacramentos, objetos de culto) instituídos por uma Igreja ou seita religiosa
3. a prática da poesia simbolista assemelha-se ao estado de êxtase, contemplação e da oração
4. concepção mística da vida: conteúdo relacionado com o espiritual, o místico, o subconsciente
Na historiografia da literatura brasileira, o simbolismo ficou abafado pelo parnasianismo, que era plenamente aceito pela Academia, por se adequar à estética do realismo. Posteriormente, ele será aceito e a importância de Cruz e Alphonsus de Guimarães será legitimada.
A poesia simbolista de Alphonsus de Guimaraens (1870-1921)
A poesia, segundo o autor, tem a missão de conduzir-nos ao sublime
· Insistência nos mesmos temas do amor e da morte durante toda sua obra
· As cores funéreas (preto e roxo) não são mero artifício, e, sim, uma condição existencial básica
· A fé católica é também decorrente de seu ambiente vital: as cidades mineiras barrocas
· O amor e a morte aparecem como o único meio de se atingir a sublimação e de aproximar o poeta de Constança, a amada noiva, morta às vésperas do seu casamento, que lhe influenciará toda a produção poética
· Sublimação do sentimento amoroso na figura da Virgem Maria
· Constância constitui o fio condutor das visões oníricas, do tom elegíaco, das imagens ancestrais, individuais e coletivas, que perpassam toda a obra do poeta
Biograficamente, um episódio importante para entender sua poesia é a perda da amada Constança, filha de Bernardo Guimarães. Alphonsus nunca se conforma com a morte da jovem, que o separa, a ele que tinha a propensão para a mitificação, definitivamente do tempo atual. A partir deste episódio, tão traumático, o poeta se volta para o passado, que é o tempo de uma felicidade agora impossível. Sua vida transcorrerá sob o signo da morte e seus poemas serão um “evangelho do aqui-jaz”. A amada está na própria santa do altar, tão pálidas as faces das duas.
E é no centro do altar poético erguido por Alphonsus que esta mulher se encontra. A sua cor branca tem conexão com a lua – outra imagem recorrente em seus poemas. A luz lunar é fria, distante, solitária na noite. O poeta descobre nela a imagem da amada ausente e presente, bem de acordo com esta concepção fantasmagórica da existência. A lua também está relacionada à memória. Ela funciona como ponto de contato entre o ontem e o hoje, e mitiga a solidão e a saudade daqueles que se sentem presos a uma outra era. Um sentimento forte que percorre a poesia de Alphonsus de Guimaraens é o da necessidade de cultuar os mortos, de tirar-lhes do esquecimento. Assim, a lua é mais do que uma imagem que comparece em seus textos noturnos, é a própria essência do ato poético, por ser um símbolo da memória reunificadora. (http://www.revista.agulha.nom.br/msanches021.html)
· Além da morte, há um profundo interesse pelo noturno e pelo mistério da existência
· Retratação do tema da loucura, aproximando-a dos estados sublimes da vida
· Criação de uma atmosfera mística e litúrgica, em que abundam referências ao corpo morto, ao esquife, às orações, às cores roxa e negra, e ao sepultamento
· Símbolos fúnebres: pó, cal, cova, jazigo funeral
· Lua: aura, neve, luz, palidez, branco, sol, rosa branca, lírios
· Tentação(desejo) X Salvação (devoção) :
1. lábios vermelhos; olhar, beijo
X
2. oração, cruz, igreja, santos, altar, anjos, salmos, Jesus messiânico, hinos , céu; devoção a Santa Teresa de Jesus; escapulário, rosário, coroa
Principais poemas
A Catedral
Entre brumas ao longe surge a aurora,
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu risonho
Toda branca de sol.
E o sino canta em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
O astro glorioso segue a eterna estrada.
Uma aurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.
A catedral eburnea do meu sonho,
Onde os meus olhos tao cansados ponho,
Recebe a bencao de Jesus.
E o sino clama em lugebres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
Por entre lirios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece
Poe-se a luz a rezar.
A catedral eburnea do meu sonho
Aparece na paz do ceu tristonho
Toda branca de luar.
E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
O céu e todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem acoitar o rosto meu.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu.
E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
(http://www.revista.agulha.nom.br/msanches021.html)
O sino e seus badalos, presenças tão fortes nas cidades mineiras, levam a alma a um transe religioso, abolindo com seus sons a vida imediata.
Sendo um mecanismo cronológico, ele marca um tempo místico, cíclico, que se repete infinitamente. Alphonsus de Guimaraens explora este tema em “A catedral”, um de seus mais belos poemas, onde a mudança da paisagem vai sendo acompanhada pelas ressonâncias do sino, que se intensificam com o passar das horas, embora o refrão continue o mesmo. O poema é composto em quatro tempos: manhã, meio-dia, tarde e noite. Primeiro o sino canta, depois clama, chora e por fim geme a sua mensagem monótona, mas esta mudança se dá no receptor, comovido com a chegada da noite:E o sino geme em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!” Há aqui um estribilho tão significativo quanto o do famoso poema “O corvo”, de Edgar Allan Poe, em que este animal responde às inquietações do poeta com a invariável frase “Nunca mais”, liquidando as ilusões humanas. Ao repetir o seu “Pobre Alphonsus!”, o sino está dizendo a mesma coisa, dirigindo-se a um interlocutor definido. É o declínio da condição humana visto na unidade de um dia.
Ismália
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
(http://www.revista.agulha.nom.br/msanches021.html)
A sua verdadeira cidade não está na terra, mas na geografia mítica dos símbolos siderais, continente das coisas eternas. É lá que o poeta quer residir e, nesse sentido, ele se considera um lunático. Toda a sua poesia está construída sobre esta consciência dolorosa da cisão, que só é anulada tragicamente. Este o drama de Ismália, que queria duas luas, sem saber que uma era apenas miragem. Fica aí representado o drama íntimo do próprio poeta, que se sente duplamente atraído por dois elementos distintos, numa equação que só pode ser resolvida com a morte, quando a parte terrena do ser libera a alma para seguir ao encontro desta cidade celeste.
Hão de Chorar por Ela os Cinamomos...
Hão de chorar por ela os cinamomos,
Murchando as flores ao tombar do dia.
Dos laranjais hão de cair os pomos,
Lembrando-se daquela que os colhia.
As estrelas dirão — "Ai! nada somos,
Pois ela se morreu silente e fria.. . "
E pondo os olhos nela como pomos,
Hão de chorar a irmã que lhes sorria.
A lua, que lhe foi mãe carinhosa,
Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de rosa.
Os meus sonhos de amor serão defuntos...
E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,
Pensando em mim: — "Por que não vieram juntos?"